Há um ano atrás, esta coisa da blogosfera era para mim um quase mistério. Já por lá tinha feito uma ou outra incursão, mas sempre sem grande interesse. Hoje, sou um blogodependente.
Estou, por isso, preocupado com aquilo que tenho ouvido e lido a muitos comentadores (a expressão inglesa “opinion makers” é mais correcta, por ser isso mesmo aquilo que eles são). Segundo eles, a blogosfera contem em si mesma um terrível mal, ao permitir a divulgação de mentiras e a difamação de pessoas inocentes. Defendem por isso um maior controlo sobre quem escreve e aquilo que é escrito. Esta opinião nem sequer é restrita a comentadores de direita ou de esquerda, já que é comum a todo o espectro político, o que a torna ainda mais perigosa.
Temos de reconhecer que existem, efectivamente, alguns abusos, mas, se olharmos com algum distanciamento poderemos ver que aquilo que se passa, não é mais que a transformação dos antigos “boatos” em formato digital. Aquilo que dantes, se espalhava como fogo em palha seca, de boca em boca, nas ruas, locais de trabalho e nas lojas é hoje transmitido em textos colocados em blogs. Isto, até me parece trazer algumas vantagens relativamente ao antigo modelo de boato público. A primeira é a de confinar o número de pessoas a que a ele têm acesso. Neste momento o boato não é repetido, mas somente a informação do nome do blog onde ele existe o é. É mais fácil e mais rápido dizer, “vai ao blog a ou ao blog b” do que estar a contar todo o boato de novo. Outra vantagem, e talvez a mais importante, é a de permitir ao alvo do boato saber aquilo que é dito sobre ele, podendo assim desmentir e defender-se. Com o boato tradicional, quantas vezes o ofendido nunca chegava a saber aquilo que todos diziam sobre a sua pessoa. Via os outros cochichar à sua passagem sem que ninguém tivesse a coragem de lhe dizer aquilo que sobre ele era dito. Agora têm as mesmas ferramentas utilizadas para divulgar o boato para se poder defender, a própria blogosfera.
Mas, isto são as consequências, e convinha saber de quem é a grande responsabilidade destes boatos digitais terem ganho a importância que ganharam.
Originalmente os blogs, serviriam simplesmente para serem utilizados como páginas pessoais, onde poderiam ser colocadas opiniões e ideias. Foram os jornalistas, profissão de onde saíram a maioria desses críticos comentadores, quem primeiro transformou a blogosfera numa nova forma de difundir a informação. Publicavam, nos seus blogs, as noticias que não eram dadas pelos órgãos de informação para os quais trabalhavam. Quantas vezes, nem informaram o seu jornal de uma determinada noticia, só para a darem no seu blog para lhe granjearem mais fama e chamar visitantes? Já agora, quantos destes boatos que correm pela blogosfera, não são responsabilidade desses mesmos jornalistas, que em artigos seus, lançaram a insinuação ou a suspeição? Não foram, afinal, os jornais os primeiros que difundiram tantas notícias que arruinaram a vida a tanta gente sem lhes darem sequer o direito a serem considerados presumíveis inocentes até prova em contrário? Não são eles também responsáveis por cada vez mais publico sentir que a informação, que lemos ou ouvimos nos jornais e televisões, é menos isenta e menos verdadeira que muita daquela que encontramos nos blogs?
Estas não eram as funções dos blogs, e se actualmente lá existem, é por culpa desses senhores jornalistas que agora se mostram tão preocupados com isso (o sentirem que aparecem na blogosfera melhores comentários e comentadores que eles, também pode ajudar a esta “preocupação”).
Devemos por isso defender a blogosfera naquilo que ela realmente é, um espaço de liberdade onde cada um de nós possa expressar o seu pensamento. Um espaço para compartilhar ideias e procurar caminhos. Um espaço nosso, livre de interferências e de quem nos queira dizer o que é bom ou mau.
Quanto aos boatos, continuarão a haver sempre, seja aqui ou em qualquer outro lugar.